A Herança das Nações
Um Pacto com todos os povos foi firmado por D’us com Noach [Noé] e toda sua descendência, como está relatado no livro de Gênesis: “... o Meu arco pus na nuvem e será por sinal de aliança entre Mim e a terra.” [Gênesis 9: 12, 13].
Estes versos nas escrituras Sagradas Judaicas estabelecem o Pacto Divino feito com todas as nações da terra onde princípios éticos e morais deveriam ser observados - não só por Noé e sua família, como registra as Escrituras Hebraicas - mas por toda a humanidade, aqueles considerados seus descendentes sendo seus mandamentos válidos até os dias de hoje.
Durante todo o período em que povo judeu viveu na Terra de Israel, a sua responsabilidade era ensinar a todos os não-judeus que haviam abandonado a Tradição das Sete Leis Universais; e essa obrigação foi cumprida: durante os 410 anos do Primeiro Templo, e os 420 anos do Segundo Templo, os não judeus que desejavam habitar na Terra de Israel, deveriam observar os Sete Mandamentos do Pacto Universal[1]; e por meio de sua fidelidade e devoção, tinham a permissão de entrar no Templo Sagrado, e oferecer ali oferendas ao ETERNO.
Entretanto, com relação às outras nações do mundo em geral, havia um problema: Israel, apesar de ser muito influente sob o reinado de Salomão, não constituía nada mais que uma pequena parcela da população mundial: então a observância das Sete Leis do Pacto Universal fora da Terra de Israel era insignificante.
Então, no ano 4800 da Criação, aproximadamente dois mil ano atrás, no ano 70 de nossa era, D’us tomou uma drástica decisão para remediar a situação. ELE provocou a destruição do Beit Hamikdash, o Templo Sagrado de Jerusalém, o centro religioso da vida judaica, e exilou o Povo de Israel aos quatro cantos da terra onde permanecem em sua maioria até os dias de hoje.
Ao analisar “o porquê” do exílio, percebemos que ele não apenas expia os pecados do povo de Israel - como informado pelos sábios de abençoada memória[2] - mas também traduz a noção e traz a tona um profundo significado, fazendo-nos entender a razão das Escrituras mencionarem Israel como uma “luz para as nações”[3]. O profeta Yechezkel em seu livro registra:
(...) Ainda que os tenha lançado para longe entre as nações, e ainda que os tenha espalhado pelas terras, todavia lhes serei como um pequeno santuário, nas terras para onde foram (Ezequiel 11:16).
O Talmud nos elucida de forma mais clara como se dá essa informação: “...o Povo Judeu foi enviado ao exílio para que se multiplicassem os convertidos”[4], isto é, para que pudessem ensinar os povos e fazê-los recordar sobre o Pacto Universal feito com D’us e a humanidade no passado.
Preservado até os dias de hoje pela Tradição Judaica, guardiã da Sabedoria Divina, as Sete Leis Universais dos Filhos de Noach (como também são conhecidas) continuam pouco a pouco sendo aprendidas por indivíduos que buscam recuperar a sagrada tradição abandonada em certo período da história pelos seus antepassados inteirando-se desse conhecimento em academias de estudo em conjunto com os judeus no mundo todo. Apesar de alguns de seus principios fundamentais serem a base de civilizações e ainda assim tidas como desconhecidas em sua forma original, elas têm estado com a humanidade desde a criação do primeiro homem, Adam Harishom, e que este teria aprendido do próprio D’us, como a Tradição Judaica registra:
“Seis mandamentos foram dados a Adão: (1) a proibição de adorar falsos deuses, (2) não amaldiçoar [o Nome de] D’us; (3) não assassinar, (4) não cometer adultério, (5) não roubar, e (6) [a obrigação de] estabelecer leis e tribunais de justiça.” A proibição de comer a carne de um animal ainda vivo foi adicionada [nos dias de] Noé, como está registrado [em Gênesis 9:4]: “... a carne com sua vida, no seu sangue, não comereis”. Portanto, existem Sete Mandamentos [designados] aos descendentes de Noé. Essas leis se mantiveram [intactas] em todo o mundo até [a geração de] Abraão [o patriarca do Povo Judeu].
{RamBaM, Hilchot Melachim 9:1}
É devido o abandono da tradição recebida por Noach com o passar dos tempos, as Sete Leis Universais permaneceram esquecidas e ainda o são para a maioria das pessoas do mundo[5].
A atual propagação da Aliança Universal é um movimento de “restauração ético‐religiosa”, no objetivo de que os povos que se desenvolveram sob a égide de religiões posteriores, tenham a oportunidade de aprender sobre sua “Herança Primordial”, a fim de que, com este conhecimento; percebam a sabedoria Divina revelada desde o princípio e preservada pelo povo judeu através dos séculos, decidindo abandonar a idolatria que se desenvolveu em seu meio, devotando‐se tão somente ao conhecimento e observância destas Sete Leis, tal como era no passado.
Referências:
[1] Rabi Moshe Ben Maimon; Maimônides: Hilchot Avodat Cochavim 10:6
[2] Vide Hilchot Teshuvá, Yad Hazaká & Rabeinu Shlomo ben Itzchak (Rashi), em seu comentário sobre Vaicrá 26:34.
[3] Vide por exemplo, Isaías 42:6 e Isaías 49:6
[4] Talmud, Tratado de Pessachim 87 folio b
[5] Devido à ignorância simplesmente ou ao remanescente ódio/preconceito no coração das pessoas contra tudo aquilo que representa o modo de vida ou crença dos judeus (sistema de pensamento conhecido como antissemitismo).
Renato Santos